Blog do Abilio Diniz

Arquivo : Futebol brasileiro

Na marca do pênalti
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Abilio Diniz

A ação fulminante da polícia americana contra a corrupção no futebol mundial criou uma oportunidade única de mudar o futebol brasileiro. Precisamos aproveitar essa chance, por mais difícil que seja a batalha.

 

Foi com esse senso de oportunidade que muitos amigos me procuraram para encabeçar uma chapa para concorrer à vaga aberta de vice-presidente da CBF e, a partir daí, chegar à presidência e promover, rapidamente, as mudanças nos estatutos e na governança que tornariam as reformas possíveis.

 

Fiquei honrado pelo apoio de pessoas e entidades tão relevantes, mas, além dos meus compromissos com as empresas onde atuo, não houve tempo hábil para seguir.

 

Continuo disposto a ajudar o nosso futebol a se livrar dessa prisão e torná-lo novamente uma fonte de alegria ao povo brasileiro. Só vamos conseguir isso com mudanças profundas na CBF e também na mentalidade dos dirigentes das federações e dos clubes.

 

Nossa luta continua.

 


A nossa parte no escândalo da FIFA
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Abilio Diniz

As investigações das autoridades americanas contra os principais dirigentes do futebol mundial me dão a esperança de que, finalmente, poderemos ver o início de uma nova era nesse esporte tão amado e também tão maltratado no Brasil e no mundo. Foi a maior vitória do futebol mundial dos últimos tempos, e aconteceu fora dos gramados.

Há muito tempo sabemos que essa casta há décadas encrustada na FIFA e em outras importantes entidades do futebol usa o esporte somente para benefício próprio, passando por cima de tudo que apareça, inclusive das leis.

A renúncia do presidente da Fifa, Joseph Blatter, e a prisão de outros dirigentes, inclusive um ex-presidente da CBF, deve ser o pontapé inicial para devolver o futebol ao povo, que é o seu único dono.

Mas, apesar da comemoração da torcida, o jogo não está ganho. É preciso lembrar que na semana passada, poucos dias depois da prisão dos dirigentes num hotel em Zurique, a FIFA reelegeu com relativa folga Blatter e sua turma para um novo mandato à frente da organização até 2019! Foi um constrangimento e uma ofensa em nível planetário, que a renúncia atenua um pouco. Esses mesmos dirigentes agora terão de eleger um novo presidente.

O que fazer? Como garantir que a maior conquista do futebol mundial em décadas, ocorrida, sintomaticamente fora dos campos, se transforme de fato em um caminho para o avanço do esporte mais amado do mundo? Torcer só não basta.

Aqui no Brasil já temos uma iniciativa muito importante pela melhoria do futebol: a Medida Provisória em tramitação no Congresso que estabelece que os clubes terão de aperfeiçoar sua gestão para refinanciar suas dívidas milionárias com a União.

A CBF, cujo vice-presidente hoje aguarda numa prisão suíça a extradição para os EUA, as federações estaduais e dirigentes de futebol em geral já fazem grande pressão no Congresso brasileiro contra as mudanças propostas. Esse mesmo Congresso, diante do escândalo mundial, acaba de aprovar a criação de uma CPI para investigar tanto a FIFA quanto a CBF.

Há uma ligação clara entre os desmandos no futebol mundial e os desmandos na gestão dos clubes brasileiros. O combate numa frente ajuda no combate na outra frente. Que a CPI ajude na aprovação da MP.

O Poder Executivo fez a sua parte. Agora a bola está no Congresso Nacional. O futuro do futebol brasileiro está nas mãos de nossos deputados e senadores. Que eles defendam o povo brasileiro que tanto ama o futebol e aprovem a MP que pode mudar a história do futebol brasileiro. Assim vamos fazer a nossa parte para começar a limpeza e a reestruturação do nosso futebol.

Isso o FBI não fará por nós. Quem tem que mudar esse estado lamentável do futebol brasileiro somos nós mesmos.


A partida só acaba quando termina
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Abilio Diniz

A luta pela reformulação do futebol brasileiro segue dura e aguerrida. Como era previsto, a CBF, as federações estaduais e dirigentes de futebol já começaram movimentação intensa no Congresso e na mídia para convencer parlamentares e a opinião pública de que o futebol brasileiro não precisa de uma reformulação radical em sua gestão como prevista na Medida Provisória (MP) encaminhada pelo governo e que deve ser votada por deputados e senadores nos próximos meses.

 Num país democrático e com instituições fortes como o Brasil, o debate é muito bem-vindo e necessário. Aliás, ele já começou com a elaboração da MP, quando o governo ouviu dirigentes, atletas e outros especialistas.

A MP estabelece que os clubes terão de melhorar sua gestão para refinanciar dívidas milionárias com a União. Em troca de generosas condições de quitação de dívida, a MP exige medidas básicas de boa gestão, como publicação de demonstrações contábeis auditadas por empresa independente; manter em dia obrigações tributárias, previdenciárias, trabalhistas, contratuais e de direito de imagem; zerar os déficits até 2021; diversificar gastos para outros esportes; responsabilizar judicialmente dirigentes por má gestão; criar um órgão para fiscalizar o cumprimento da lei e aplicar punições.

 A responsabilidade fiscal (o equilíbrio mínimo entre despesas e receitas) é uma necessidade básica nas nossas casas, nas nossas empresas, no nosso país.

 Mas não é o que ocorre nos nossos clubes de futebol, que contratam jogadores e técnicos com salários altíssimos sem ter depois como pagar, que deixam de quitar obrigações tributárias e previdenciárias, que elegem e reelegem dirigentes sem capacidade de gestão, protegidos pela impunidade.

 A CBF alega que a MP é inconstitucional por ferir o direito de autonomia das entidades esportivas ao estabelecer regras para reformar nosso futebol.

 Caberá agora aos parlamentares, assessorados por juristas e associações do setor, o dever de consolidar a reforma já tardia do esporte. Não podemos desperdiçar o ímpeto reformista criado depois do fracasso na Copa.

 Caímos diante da Alemanha, a nova pátria do futebol, que realizou uma das reformas mais bem sucedidas no esporte na década passada. Os clubes alemães também tinham problemas de gestão financeira e técnica, mas, com disciplina, inteligência e pressão do governo e da sociedade, acertaram suas contas e sua gestão. Pouco depois, fizeram final alemã da Liga dos Campeões e ganharam a Copa do Mundo no Brasil com show de bola e organização.

 Enfraquecido por dívidas milionárias com a União, o país tem a oportunidade, o dever e o direito de exigir dos clubes uma boa gestão dessa grande paixão nacional.

 É parte da democracia que diferentes grupos pressionem seus representantes eleitos na elaboração das leis do país. O grupo que está no poder há décadas no futebol, liderado pela CBF, já está trabalhando a todo o vapor contra a modernização do esporte. É o momento de nós, os apaixonados pelo futebol, também fazermos nossa pressão, capitaneados pelos atletas do Bom Senso Futebol Clube.

 A MP foi um belo gol de quem quer modernizar o futebol. Mas, como dizia um velho filósofo da bola, a partida só acaba quando termina.


O bom futebol brasileiro está de volta?
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Abilio Diniz

Em vez de comentar mais uma rodada do Campeonato Paulista, decidi falar de seleção brasileira. Já me manifestei aqui que gosto muito do Dunga como técnico e estou satisfeito com seu trabalho à frente da seleção, até agora.

Especialmente nesta semana fiquei ainda mais confiante. Menos pelos resultados, mas muito mais pelo lado tático e principalmente pela postura dos jogadores em campo. Temos 11 guerreiros, disciplinados, com determinação e garra. Precisamos tomar cuidado com os excessos. Contra o Chile, fizemos 3 vezes mais faltas que os adversários e tomamos 7 cartões amarelos.

É claro que vitórias são importantes, principalmente contra adversários como a França. É uma delícia ganhar dos franceses e na casa deles. No jogo contra o Chile, não entramos com o time principal e tivemos dificuldades e mesmo assim, vencemos.

Estamos firmes no caminho da recuperação após o trauma da Copa do Mundo. Dunga tem hoje uma base bem formada e o que é incrível, com vários jogadores que participaram do fiasco de 2014.

Jeferson em grande forma se firma como goleiro. Na primeira linha de quatro, Danilo, David Luiz e Miranda estão absolutos. Thiago Silva pode ser boa opção. Na lateral esquerda, Felipe Luiz e Marcelo vão disputar a vaga.

No meio campo, nenhuma dúvida. Luis Gustavo, Elias, Oscar e Wilian estão jogando muito bem e deram show contra os franceses.

Na frente, Neymar e este garoto Firmino que está aparecendo como uma ótima opção a Diego Tardeli.

Temos o time. Mas o que mais gosto é da postura tática do time. Compacto, todos avançam e todos recuam. Defendemos em bloco e atacamos em bloco. Quando somos pressionados, colocamos os 11 atrás da linha da bola. Marcação firme no adversário e não apenas na bola.

Esta é a postura do futebol moderno, sem um homem fixo na frente, que Dunga está incorporando. Que legal. É cedo para excessos de entusiasmo, mas acho que o bom futebol brasileiro pode estar de volta.


O exemplo e a consagração de Tite
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Abilio Diniz

Terminei de assistir à Copa de 2014 frustrado e profundamente irritado. Como apaixonado por futebol e estudioso desse esporte, fiquei muito triste. Menos com o 7×1, que considero um acidente, e mais com toda a performance da seleção no torneio.

Não gosto de ficar apontando culpados, mas foi deprimente ouvir Parreira e Felipão dizerem que tinham feito tudo certo e que repetiriam tudo de novo se tivessem a oportunidade.

Já disse aqui que o Brasil continua produzindo craques, mas nos faltam técnicos competentes e atualizados. Por isso fiquei surpreso com a escolha de Dunga para dirigir a recuperação da seleção pouco depois do fracasso de 2014 e do insucesso dele próprio em 2010.

Se fosse eu o encarregado da escolha, Dunga seria a minha segunda opção. Sempre admirei sua coragem com aquele esquema tático ousado com volantes ágeis que tanto defendiam como chegavam ao ataque. Tivemos grandes resultados com essa forma de jogar, mas caímos no mundial de 2010.

Em outubro do ano passado, tive a oportunidade de conhecer pessoalmente aquele que teria sido minha primeira opção para renovar a seleção brasileira.

Convidei Tite para um almoço e um debate comigo e mais algumas pessoas que trabalham comigo em esporte. Ficamos todos muito felizes com a conversa, e cresceu ainda mais a nossa admiração por este técnico competente que não para de estudar e tentar evoluir.

O resultado está aparecendo. O desempenho do Corinthians neste ano, após o retorno de Tite, está sendo admirável. E quem ganha não é apenas o Tite e o Corinthians, mas todo o futebol brasileiro.

Neste final de semana, ele recebeu um grande reconhecimento da mídia. Uma entrevista na “Folha de São Paulo” e uma matéria na revista “Veja” colocaram Tite realmente num patamar acima dos profissionais brasileiros.

Seu exemplo ajuda a formar a onda que levará os nossos técnicos a entenderem que precisam se reciclar. Eu diria até que é mais do que uma reciclagem. É se abrir para a coisa mais importante da vida: ter humildade para procurar aprender sempre, reconhecer que nunca se sabe tudo e que aprender significa crescer.

Tenho falado isso seguidamente para o Muricy e o Milton Cruz no São Paulo e felizmente tenho sentido nos dois uma grande disposição para evoluir.

Estou cansado da história dos medíocres que dizem que técnico não ganha jogo. Não é verdade. E uma coisa é certa: se não ganha, pelo menos perde, como aconteceu conosco em 2014.

Espero que Dunga tenha sucesso na seleção e que Tite siga sua trajetória vitoriosa. O êxito dos dois valorizará muito a importância tática no nosso futebol, como acontece na Europa. Assim teremos muito aumentadas as nossas chances na Copa de 2018.


Primeiro gol de uma dura partida
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Abilio Diniz

Enfim uma boa notícia, e no futebol. A Medida Provisória (MP) encaminhada pelo Governo Federal ao Congresso estabelece que os clubes terão de melhorar sua gestão para refinanciar dívidas milionárias acumuladas em anos de administrações irresponsáveis, para dizer o mínimo.

Em troca de generosas condições de quitação de dívida, a MP exige medidas básicas para a boa gestão de qualquer organização, como publicação de demonstrações contábeis auditadas por empresa independente; manter em dia obrigações tributárias, previdenciárias, trabalhistas, contratuais e de direito de imagem; zerar os déficits até 2021; diversificar gastos para outros esportes; responsabilizar judicialmente dirigentes por má gestão; criar um órgão para fiscalizar o cumprimento da lei e aplicar punições.

Como vocês têm acompanhado aqui no blog, sou fanático por futebol e esportes em geral. E há muito venho tentando colaborar para seu desenvolvimento. O desastre brasileiro (dentro de campo) na última Copa precisa servir de catalisador para as transformações indispensáveis do nosso futebol.

Como os dirigentes parecem mais parte do problema do que da solução, essas transformações devem começar pela base de atletas e por pressão da sociedade.

Tanto o Governo Federal quanto os jogadores reunidos em torno do Bom Senso FC, que vem sendo representado por Paulo André, estão de parabéns pela medida, que para deixar de ser provisória e se tornar lei, deve sofrer ainda ajustes no Congresso Nacional.

Ou seja, o jogo ainda não está ganho. A bancada da bola certamente se mobilizará para atenuar as mudanças, principalmente aquela que limita o mandato dos dirigentes.

Por isso, além de festejar este primeiro gol, é preciso fortalecer a defesa.


O fosso entre Londres e São Paulo
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Abilio Diniz

Para os admiradores do futebol, a semana chega ao fim com um contrassenso gritante do esporte. De um lado, temos jogos espetaculares da Champions League, com disputas acirradas, com a garra e entrega de seus jogadores, com estádios cheios e confrontos de encher os olhos de qualquer torcedor. Enquanto isso, aqui no Brasil, seguimos com os apáticos Campeonatos Regionais, inexpressivos dentro e fora de campo.

Quem viu o eletrizante PSG e Chelsea em Londres, decidido na prorrogação, com decisivas atuações de craques brasileiros, e viu no dia seguinte São Paulo e São Bento ou qualquer outro jogo dos campeonatos estaduais teve uma clara dimensão do tamanho do fosso que separa o futebol europeu do futebol brasileiro.

É lamentável o cenário no qual se encontra o nosso futebol e mais lamentável ainda o fato de praticamente nada estar sendo feito por nossos dirigentes para mudar esse cenário, que ficou claro na Copa do Mundo e mais claro ainda desde então.

E o problema não está na falta de talentos individuais. Se não houvesse bons jogadores brasileiros, a Europa e seus clubes não estariam cheios deles, muitos dando show nos campeonatos nacionais e na própria Champions. O que lamento é a limitação tática na qual se encontra a maioria de nossos clubes – mesmo nos que atualmente disputam a Libertadores da América.

É claro que temos exceções, mas no fundo os torcedores estão insatisfeitos. Queremos ver partidas emocionantes. O que dizer de São Paulo x São Bento? Um jogo que chamou mais atenção em seus aspectos externos do que no campo. Em uma noite como a de ontem, 4.000 torcedores se deram ao trabalho de ir ao Morumbi e acabaram mais protestando contra o que viram que torcendo nos 90 minutos de baixíssimo nível técnico. O tricolor consegue uma vitória sofrida por 1 a 0 em um jogo sofrível até para o mais apaixonado dos são-paulinos. Lamentável.

É preocupante imaginar que prestes a disputar um jogo importante na Libertadores tenha sido este 1 a 0 o melhor que o São Paulo conseguiu fazer. Não estávamos com time B ou C. Em campo, o ataque formado por Michel Bastos, Pato, Kardec e Centurión deveria ser suficiente para uma atuação mais ofensiva. Mas o time não encontrou espaço para boas jogadas e não aproveitou a fraqueza do adversário para testar jogadas ensaiadas e corrigir os erros que vem repetindo. Foi só mais do mesmo.

Se a vitória deveria embalar os ânimos da equipe para o jogo contra o San Lorenzo, deixou a desejar. Gostaria de estar mais animado e confiante para os próximos confrontos pela Libertadores. Pode ser que eu me surpreenda, mas acho que não estamos preparados. Como torcedor, continuo esperando o melhor, mesmo estando desapontado.


Chega de concentração
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Abilio Diniz

Depois do veto de Dilma à renegociação irresponsável das dívidas dos clubes, outra boa novidade no início do ano futebolístico: o técnico Muricy Ramalho liberou o time do São Paulo da concentração nesta pré-temporada e promete fazer o mesmo em pelo menos alguns jogos da temporada, como já fez em 2014. Espero que a medida seja logo adotada de forma permanente e por todas as equipes, acabando com mais um marco do atraso no nosso futebol.

Trancar jogadores em concentrações não deve ser uma regra, mas uma exceção, se necessária, para momentos especiais. Os times europeus, que praticam o melhor futebol do mundo, não usam esse expediente e focam seu treinamento mais nos aspectos táticos do que físicos do esporte.

Quando estive com o Neymar em Barcelona, no final do ano passado, fiquei surpreso em encontrá-lo em casa numa sexta-feira, véspera de jogo importante contra o Sevilla. Neymar não só dormiu em casa na véspera da partida, como, no dia seguinte, se apresentou só às 10 da manhã no clube para um “bobinho” e um aquecimento, voltando depois para casa e se reapresentando, já no estádio, às 18h30 para o jogo das 20h.

Jogador profissional é assim. Sabe o que deve e o que não deve fazer. E que se não fizer o que deve, prejudicará seu time e sua própria carreira. O futebol está cada dia mais competitivo. Não há mais espaço para abusos que comprometam o desempenho do atleta e do grupo.

Por isso é fundamental desenvolver no jogador a consciência da importância do que ele faz. Como são profissionais que atingem seu pico em idade ainda muito jovem, eles precisam aprender logo cedo a ter responsabilidade e passar confiança ao time e ao treinador. E os clubes, ao invés de trancafiá-los como crianças, devem investir na formação dos atletas não apenas como jogadores, mas como homens de bem e responsáveis.

A maioria dos jogadores no Brasil já tem essa consciência. Só falta agora acabar com o confinamento que os isola das famílias e dos amigos e atrapalha suas vidas desnecessariamente, além de gerar custos extras aos clubes com acomodação.

Como disse o Muricy: “A concentração já não está mais cabendo no futebol de hoje. Os jogadores têm de ser responsáveis por seus atos e têm a obrigação de responder com disciplina, cuidando da saúde. Eles têm contrato e não estão fazendo favor a ninguém, é obrigação. O grupo ganha com isso”.

Está muito claro que o futebol brasileiro precisa mudar. O veto de Dilma neste mês deu um choque de credibilidade a esse movimento coletivo de mudança. O fim da concentração vai na mesma direção.


Choque de credibilidade
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Abilio Diniz

Presidente Dilma, que bom que você vetou a lei que permitia enormes descontos e parcelamentos das dívidas dos clubes sem nenhum compromisso deles com uma boa gestão. Seu veto foi um presente para o futebol brasileiro e aponta para uma nova era num esporte tão importante para o nosso país.

Foi uma vitória do bom senso e do Bom Senso F.C. (o movimento dos jogadores criado em 2013 para reformar o futebol) contra a anacrônica bancada da bola, que aprovou em tempo recorde, no final do mandato legislativo, mais um salvo-conduto à má gestão dos nossos clubes.

A punição é um grande aprendizado, sem ela não existe boa gestão. Os gestores dos clubes devem ter responsabilidades e ser responsabilizados quando gastam mal o grande volume de dinheiro que movimentam. Só assim eles se sentirão obrigados a gerir bem e com mais transparência essas organizações. Um perdão fiscal como o aprovado no Congresso, inserido de última hora numa Medida Provisória sobre outro assunto, à revelia de um processo em curso de discussão entre jogadores, clubes e autoridades, seria uma forma de incentivar a continuidade da má gestão do futebol, não de combatê-la.

Fico muito feliz porque o veto presidencial reflete e revigora o desejo de mudança no nosso futebol. Por outro lado, a aprovação da medida pela Câmera e pelo Senado da forma como foi feita mostra que a briga vai ser dura.

A CBF, por exemplo, era contra o veto da presidente e a favor da nova lei. E ainda queria para si a função de criar e fiscalizar as normas que garantiriam o pagamento das dívidas e a boa gestão dos clubes. Mas, infelizmente, a entidade que administra o nosso futebol não mostrou competência para isso e até aqui foi mais parte do problema do que da solução. Por isso, eu acho que são os clubes, uma vez bem geridos e reestruturados, que devem cobrar a CBF, e não o contrário.

O esporte no século 21 traz grandes possibilidades de desenvolvimento social e econômico. Basta ver e aprender com o trabalho de ligas bem sucedidas como as do futebol europeu e as de basquete, beisebol e futebol americano nos EUA. Nosso potencial no futebol (e mesmo em outros esportes) é enorme, mas só se realizará com reformas e firmeza.

Como disse a nota da Presidência, explicando as razões do veto, é preciso formular uma proposta conjunta de todos os envolvidos para estimular a modernização do futebol no Brasil. Uma proposta, diz a nota, que passa pela “responsabilidade fiscal dos clubes e entidades, a transparência e o aprimoramento de sua gestão, bem como a efetividade dos direitos dos atletas”.

É isso aí. A medida vetada por Dilma corria no caminho oposto. Por isso a necessidade do veto. Agora é preciso concluir o processo de amplo diálogo já em curso e aprovar uma proposta que seja boa para todos, menos para aqueles que lucram com o descalabro do futebol no Brasil.

O veto da presidente Dilma revigora esse processo e lhe dá um choque de credibilidade. Como diz o Bom Senso, é preciso tornar o Brasil o verdadeiro país do futebol. E isso só virá com outra mentalidade, outras normas e outra gestão.


A cura do futebol brasileiro
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Abilio Diniz

Desde o vexame da seleção brasileira na Copa do Mundo, tenho me perguntado o que pode ser feito para melhorar o futebol brasileiro.  Tenho também me reunido com jogadores, técnicos e outros especialistas fazendo a eles a mesma pergunta.

E respostas existem. Há muito a fazer. Mas nada vai acontecer se as pessoas que dirigem o futebol brasileiro não se movimentarem nesse sentido. Então, para além das respostas e soluções, é preciso sensibilizar a classe dirigente do esporte da urgência das mudanças corretas.

Logo depois do fiasco do 7 a 1, muito se falou em debater o futebol, realizar seminários, estudar modelos, mas nada disso aconteceu. Nomearam um novo treinador da seleção, e toca-se o barco como se ele não tivesse afundado.

Os erros nós já conhecemos. Má gestão de clubes e federações, campeonatos mal estruturados, baixa qualidade na formação de jogadores e técnicos, interesses inconfessáveis na transação de jogadores desde a base, ausência de cursos profissionalizantes para técnicos e gestores. Faltam coragem e energia para enfrentá-los e corrigi-los.

Nos meus contatos com o pessoal do Bom Senso, entendi o quanto o Campeonato Brasileiro precisa mudar para que a maior parte dos jogadores profissionais possam jogar no mínimo 8 meses por ano. O Brasil possui quase 700 clubes de futebol registrados na CBF, com cerca de 18.000 jogadores. Mas só 100 clubes e cerca de 2.500 atletas jogam no mínimo 8 meses ao ano. Ou seja, a imensa maioria dos atletas tem esse emprego só durante 3 meses por ano. Com outra estrutura de campeonatos, que envolvam mais times em novas divisões regionais, poderemos dar emprego permanente a muito mais jogadores e técnicos, ampliando seu desenvolvimento e a fonte de talentos.

Sempre achei que o Brasil tem jogadores no nível dos melhores de qualquer país e por isso seríamos capazes de formar uma seleção para enfrentar qualquer adversário. Mas mesmo isso já começa a ser questionado, como li na excelente reportagem do PVC que a Folha publicou este mês.

Onde falhamos? Na organização do nosso futebol, que deixaram os clubes em situação financeira catastrófica, e também na organização dos times. O Brasil é muito fraco taticamente, no seu posicionamento em campo. Os treinadores brasileiros, com uma ou outra exceção, estão totalmente desatualizados se comparados com os melhores treinadores europeus.

Na Europa o aspecto tático tem muito mais relevância do que aqui. Os treinos no Brasil são muito mais focados na parte física dos atletas. Nos times europeus, o importante é como se posicionar em campo, como enfrentar seus adversários, como criar jogadas que permitam vencer as retrancas e os posicionamentos dos adversários.

Há ainda a queixa do calendário muito pesado aqui, com muitos jogos por semana para os grandes times. Mas se olharmos a carga de jogos na Europa, ela não é tão menor assim. E enquanto aqui no Brasil amarramos os jogadores em concentrações exaustivas, na Europa se dá muito mais liberdade (e responsabilidade) ao jogador, sem exauri-lo em treinos e concentrações.

Por tudo isso estamos atrasados, por isso o nosso fracasso na Copa. E essas são apenas as questões principais. Há muito o que falar sobre as deficiências e as urgências do futebol brasileiro. Mas, mais do que tudo, é preciso começar a fazer. Antes que a distância do Brasil para os países mais avançados fique ainda maior que o Oceano Atlântico.


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