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A cura do futebol brasileiro
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Abilio Diniz

Desde o vexame da seleção brasileira na Copa do Mundo, tenho me perguntado o que pode ser feito para melhorar o futebol brasileiro.  Tenho também me reunido com jogadores, técnicos e outros especialistas fazendo a eles a mesma pergunta.

E respostas existem. Há muito a fazer. Mas nada vai acontecer se as pessoas que dirigem o futebol brasileiro não se movimentarem nesse sentido. Então, para além das respostas e soluções, é preciso sensibilizar a classe dirigente do esporte da urgência das mudanças corretas.

Logo depois do fiasco do 7 a 1, muito se falou em debater o futebol, realizar seminários, estudar modelos, mas nada disso aconteceu. Nomearam um novo treinador da seleção, e toca-se o barco como se ele não tivesse afundado.

Os erros nós já conhecemos. Má gestão de clubes e federações, campeonatos mal estruturados, baixa qualidade na formação de jogadores e técnicos, interesses inconfessáveis na transação de jogadores desde a base, ausência de cursos profissionalizantes para técnicos e gestores. Faltam coragem e energia para enfrentá-los e corrigi-los.

Nos meus contatos com o pessoal do Bom Senso, entendi o quanto o Campeonato Brasileiro precisa mudar para que a maior parte dos jogadores profissionais possam jogar no mínimo 8 meses por ano. O Brasil possui quase 700 clubes de futebol registrados na CBF, com cerca de 18.000 jogadores. Mas só 100 clubes e cerca de 2.500 atletas jogam no mínimo 8 meses ao ano. Ou seja, a imensa maioria dos atletas tem esse emprego só durante 3 meses por ano. Com outra estrutura de campeonatos, que envolvam mais times em novas divisões regionais, poderemos dar emprego permanente a muito mais jogadores e técnicos, ampliando seu desenvolvimento e a fonte de talentos.

Sempre achei que o Brasil tem jogadores no nível dos melhores de qualquer país e por isso seríamos capazes de formar uma seleção para enfrentar qualquer adversário. Mas mesmo isso já começa a ser questionado, como li na excelente reportagem do PVC que a Folha publicou este mês.

Onde falhamos? Na organização do nosso futebol, que deixaram os clubes em situação financeira catastrófica, e também na organização dos times. O Brasil é muito fraco taticamente, no seu posicionamento em campo. Os treinadores brasileiros, com uma ou outra exceção, estão totalmente desatualizados se comparados com os melhores treinadores europeus.

Na Europa o aspecto tático tem muito mais relevância do que aqui. Os treinos no Brasil são muito mais focados na parte física dos atletas. Nos times europeus, o importante é como se posicionar em campo, como enfrentar seus adversários, como criar jogadas que permitam vencer as retrancas e os posicionamentos dos adversários.

Há ainda a queixa do calendário muito pesado aqui, com muitos jogos por semana para os grandes times. Mas se olharmos a carga de jogos na Europa, ela não é tão menor assim. E enquanto aqui no Brasil amarramos os jogadores em concentrações exaustivas, na Europa se dá muito mais liberdade (e responsabilidade) ao jogador, sem exauri-lo em treinos e concentrações.

Por tudo isso estamos atrasados, por isso o nosso fracasso na Copa. E essas são apenas as questões principais. Há muito o que falar sobre as deficiências e as urgências do futebol brasileiro. Mas, mais do que tudo, é preciso começar a fazer. Antes que a distância do Brasil para os países mais avançados fique ainda maior que o Oceano Atlântico.


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