Proposta da Diretoria do SPFC afronta a boa gestão
Abilio Diniz
Nesta terça-feira haverá uma reunião extraordinária do Conselho Deliberativo do São Paulo, convocada pela direção do clube, para tratar da renovação de contrato com a TV aberta para o ano de 2019. É fácil entender por que essa proposta é absurda e nociva aos interesses do SPFC.
O primeiro motivo é óbvio. O sócio do São Paulo acaba de aprovar por imensa maioria de votos a mudança do estatuto do clube, que passa a vigorar em janeiro. Daqui a quatro meses, com a eleição da nova Diretoria, o SPFC finalmente deverá ser gerido de maneira profissional, com a descentralização de poder e com verdadeira governança. É o melhor reforço que o clube poderia ter. Agora vêm as perguntas: Por que não esperar apenas quatro meses para se discutir a renovação de um contrato que acabará só em dezembro de 2018? Por que essa pressa toda em rasgar o novo estatuto do clube e agir de modo atabalhoado e amador? Não seria mais correto que este contrato pudesse ser discutido de maneira profissional pelo Conselho de Administração estabelecido pelo novo estatuto?
Outro fator que preocupa muito é o São Paulo estar fazendo outro mau negócio com a justificativa de pagar dívidas, como disse o presidente Leco ao Blog do Perrone (http://blogdoperrone.blogosfera.uol.com.br/2016/12/leco-diz-que-pretende-antecipar-dinheiro-da-globo-para-pagar-dividas/). Ora, é o mesmo Leco que vendeu a falsa informação de que, apesar dos péssimos resultados em campo, sua gestão ao menos estava “saneando” as finanças do clube. Como dizem, mentira tem perna curta.
Vale lembrar que ainda neste ano o São Paulo já havia adiantado R$60 milhões do contrato também de 2019 com a TV fechada, receita de três anos à frente que, pelo jeito, já foi pelo ralo e que ficou abaixo dos R$ 100 milhões obtidos por outros clubes como Santos, Palmeiras e Grêmio. Sem contar que essa negociação foi feita por Ataíde Gil Guerreiro, que foi expulso pelo Conselho e depois reconduzido por Leco a um cargo de Diretoria, em claro desrespeito à decisão do órgão.
É uma afronta aos associados, que claramente votaram por uma gestão profissional, que essa diretoria, de forma irresponsável e sorrateira, queira comprometer a receita do clube para os próximos anos, contrariamente ao que rege o Profut. Convocaram uma reunião na calada da noite, perto do Natal, sob a justificativa de que não há dinheiro nem para pagar a festa de fim de ano dos funcionários. Puro terrorismo.
Não se pensa em resolver os problemas financeiros do São Paulo para que o clube volte a ser exemplo de gestão e de boas práticas.
Eu ofereci e banquei os serviços da PwC e da McKinsey, duas das melhores consultorias do mundo, para descobrirem a real situação financeira do clube e orientarem o SPFC a equacionar as suas dívidas e aproveitar todos os seus imensos recursos. Os resultados apontaram problemas graves, mas também caminhos viáveis de reestruturação dessa dívida. Nada foi feito da maneira sugerida pelas empresas especializadas. Como o São Paulo quer sair do buraco em que entrou? Aliás, é preciso que os sócios e os conselheiros saibam que a PwC voltou a oferecer mais trabalho para auxiliar o SPFC e o clube negou a ajuda. Por que será?
Desde a venda de Lucas para o Paris Saint Germain que o São Paulo não recebia valores tão consideráveis de receitas extraordinárias como neste ano. E o que aconteceu com esse dinheiro? Virou pó porque o clube gastou mais do que estava planejado no orçamento. Má gestão. Ineficiência. Time quase rebaixado. Um ano horrível, para se esquecer.
Por isso, basta de decisões opacas e baseadas em desejos de apenas uma pessoa. O novo estatuto está aí para administrar o São Paulo de maneira profissional. Será que é impossível esperar quatro meses para a nova gestão tratar de um contrato que acabará apenas em dezembro de 2018?
O Conselho Deliberativo tem em suas mãos mais uma oportunidade de mostrar seu valor aos associados. O momento do SPFC não pode permitir mais decisões erradas. O mesmo conselheiro que aprovou por unanimidade o novo estatuto pode agora impedir que essa aberração de gestão aconteça. Nós, sócios e torcedores, estaremos de olho.