A nossa parte no escândalo da FIFA
Abilio Diniz
As investigações das autoridades americanas contra os principais dirigentes do futebol mundial me dão a esperança de que, finalmente, poderemos ver o início de uma nova era nesse esporte tão amado e também tão maltratado no Brasil e no mundo. Foi a maior vitória do futebol mundial dos últimos tempos, e aconteceu fora dos gramados.
Há muito tempo sabemos que essa casta há décadas encrustada na FIFA e em outras importantes entidades do futebol usa o esporte somente para benefício próprio, passando por cima de tudo que apareça, inclusive das leis.
A renúncia do presidente da Fifa, Joseph Blatter, e a prisão de outros dirigentes, inclusive um ex-presidente da CBF, deve ser o pontapé inicial para devolver o futebol ao povo, que é o seu único dono.
Mas, apesar da comemoração da torcida, o jogo não está ganho. É preciso lembrar que na semana passada, poucos dias depois da prisão dos dirigentes num hotel em Zurique, a FIFA reelegeu com relativa folga Blatter e sua turma para um novo mandato à frente da organização até 2019! Foi um constrangimento e uma ofensa em nível planetário, que a renúncia atenua um pouco. Esses mesmos dirigentes agora terão de eleger um novo presidente.
O que fazer? Como garantir que a maior conquista do futebol mundial em décadas, ocorrida, sintomaticamente fora dos campos, se transforme de fato em um caminho para o avanço do esporte mais amado do mundo? Torcer só não basta.
Aqui no Brasil já temos uma iniciativa muito importante pela melhoria do futebol: a Medida Provisória em tramitação no Congresso que estabelece que os clubes terão de aperfeiçoar sua gestão para refinanciar suas dívidas milionárias com a União.
A CBF, cujo vice-presidente hoje aguarda numa prisão suíça a extradição para os EUA, as federações estaduais e dirigentes de futebol em geral já fazem grande pressão no Congresso brasileiro contra as mudanças propostas. Esse mesmo Congresso, diante do escândalo mundial, acaba de aprovar a criação de uma CPI para investigar tanto a FIFA quanto a CBF.
Há uma ligação clara entre os desmandos no futebol mundial e os desmandos na gestão dos clubes brasileiros. O combate numa frente ajuda no combate na outra frente. Que a CPI ajude na aprovação da MP.
O Poder Executivo fez a sua parte. Agora a bola está no Congresso Nacional. O futuro do futebol brasileiro está nas mãos de nossos deputados e senadores. Que eles defendam o povo brasileiro que tanto ama o futebol e aprovem a MP que pode mudar a história do futebol brasileiro. Assim vamos fazer a nossa parte para começar a limpeza e a reestruturação do nosso futebol.
Isso o FBI não fará por nós. Quem tem que mudar esse estado lamentável do futebol brasileiro somos nós mesmos.