Novo estatuto do SPFC não é o ideal, mas traz avanços
Abilio Diniz
Já é de conhecimento público que o São Paulo está trabalhando na confecção de seu novo estatuto. Venho dizendo há muito tempo que este pode ser o maior reforço do clube para os próximos anos e por isso tenho me empenhado muito para ajudar na sua elaboração.
A má gestão hoje no clube é amparada por um estatuto arcaico que permite aberrações administrativas. É inconcebível que o poder de decisão no SPFC esteja tão concentrado nas mãos de uma única pessoa e que áreas técnicas e de vital importância à gestão sejam comandadas por pessoas sem formação para o cargo.
Por isso, não é surpreendente que o clube esteja passando por este momento vergonhoso de sua história.
A comissão de sistematização constituída para analisar propostas enviadas por sócios e conselheiros, inclusive as minhas, já entregou o modelo final do texto do estatuto.
Entendo que houve avanços no estatuto. Ainda não é o que considero mais adequado, mas houve evolução.
Enviei muitas sugestões de emendas, e o texto contempla um ponto que considero fundamental: a descentralização do poder. Para isso será criado um Conselho de Administração, formado por nove membros: três eleitos pelo Conselho Deliberativo; um indicado pelo Conselho Consultivo; o Presidente e o Vice eleitos e mais outros três membros, que serão indicados pelo Presidente, mas que terão de ser referendados pelos outros membros deste órgão. Esses três nomes serão independentes, não-conselheiros e com experiência em Conselhos de Administração.
Entendo que os conchavos políticos se tornam mais difíceis neste modelo e, assim, a gestão do SPFC não ficará submetida somente a indicações de quem estiver no poder. Os conselheiros terão importância relevante neste processo.
Outro ponto que sugeri e considero importante em um novo estatuto é a profissionalização da gestão. O São Paulo a partir de agora terá profissionais especializados, que se tornarão diretores remunerados com valores de acordo com o mercado, e cuidarão das áreas que são fundamentais dentro do clube: financeira, jurídica, marketing, entre outras. Será o Conselho de Administração que definirá as atribuições e remuneração desses profissionais.
Dentro das emendas que apresentei, os sócios do SPFC teriam um poder maior nas decisões do clube. Lamento que os associados acabaram não conquistando os poderes que devem ter no clube, mas alguns avanços foram obtidos. Um deles é o fato de que o sócio estará 100% representado no Conselho Fiscal, porque os membros indicados pelo Conselho Deliberativo para este órgão deverão ser obrigatoriamente associados do clube.
Outra emenda que apresentei e que considero fundamental dentro de um processo democrático é a adoção do voto direto, para que o associado e o Sócio-Torcedor elejam o Presidente e o Vice-Presidente do clube. Pelo texto do estatuto apresentado até agora, o assunto está inserido como “disposição transitória” e será discutido em um prazo de um ano para sua efetivação. Espero que essa ideia se concretize. O sócio é o verdadeiro dono do clube e deve ser assim tratado.
Os conselheiros e associados terão pela frente a grande responsabilidade de votar pela aprovação do estatuto, e depois disso, eleger o Presidente do clube e os membros do Conselho de Administração. Os indicados terão a missão de implementar as regras definidas pelo novo estatuto do clube.
O que é certo é que o novo estatuto não se completa sozinho. Ele só trará avanços se o novo presidente a ser escolhido no ano que vem estiver comprometido com a gestão profissional e transparente e seja capaz de ouvir os conselheiros.
Não sei quem deve ser o presidente nem cabe a mim escolhê-lo, mas sei que deve ser diferente do que os últimos dirigentes.
Que os novos escolhidos sejam pessoas capazes e comprometidas em gerir o São Paulo, colocando os interesses da instituição à frente de seus desejos pessoais.
O estatuto ajudará nessa missão fundamental para que nosso amado clube recupere suas glórias e volte a ser exemplo para o Brasil e para o mundo no futebol.