O fosso entre Londres e São Paulo
Abilio Diniz
Para os admiradores do futebol, a semana chega ao fim com um contrassenso gritante do esporte. De um lado, temos jogos espetaculares da Champions League, com disputas acirradas, com a garra e entrega de seus jogadores, com estádios cheios e confrontos de encher os olhos de qualquer torcedor. Enquanto isso, aqui no Brasil, seguimos com os apáticos Campeonatos Regionais, inexpressivos dentro e fora de campo.
Quem viu o eletrizante PSG e Chelsea em Londres, decidido na prorrogação, com decisivas atuações de craques brasileiros, e viu no dia seguinte São Paulo e São Bento ou qualquer outro jogo dos campeonatos estaduais teve uma clara dimensão do tamanho do fosso que separa o futebol europeu do futebol brasileiro.
É lamentável o cenário no qual se encontra o nosso futebol e mais lamentável ainda o fato de praticamente nada estar sendo feito por nossos dirigentes para mudar esse cenário, que ficou claro na Copa do Mundo e mais claro ainda desde então.
E o problema não está na falta de talentos individuais. Se não houvesse bons jogadores brasileiros, a Europa e seus clubes não estariam cheios deles, muitos dando show nos campeonatos nacionais e na própria Champions. O que lamento é a limitação tática na qual se encontra a maioria de nossos clubes – mesmo nos que atualmente disputam a Libertadores da América.
É claro que temos exceções, mas no fundo os torcedores estão insatisfeitos. Queremos ver partidas emocionantes. O que dizer de São Paulo x São Bento? Um jogo que chamou mais atenção em seus aspectos externos do que no campo. Em uma noite como a de ontem, 4.000 torcedores se deram ao trabalho de ir ao Morumbi e acabaram mais protestando contra o que viram que torcendo nos 90 minutos de baixíssimo nível técnico. O tricolor consegue uma vitória sofrida por 1 a 0 em um jogo sofrível até para o mais apaixonado dos são-paulinos. Lamentável.
É preocupante imaginar que prestes a disputar um jogo importante na Libertadores tenha sido este 1 a 0 o melhor que o São Paulo conseguiu fazer. Não estávamos com time B ou C. Em campo, o ataque formado por Michel Bastos, Pato, Kardec e Centurión deveria ser suficiente para uma atuação mais ofensiva. Mas o time não encontrou espaço para boas jogadas e não aproveitou a fraqueza do adversário para testar jogadas ensaiadas e corrigir os erros que vem repetindo. Foi só mais do mesmo.
Se a vitória deveria embalar os ânimos da equipe para o jogo contra o San Lorenzo, deixou a desejar. Gostaria de estar mais animado e confiante para os próximos confrontos pela Libertadores. Pode ser que eu me surpreenda, mas acho que não estamos preparados. Como torcedor, continuo esperando o melhor, mesmo estando desapontado.