Blog do Abilio Diniz

Sr. Aidar: tome a decisão correta

Abilio Diniz

Muitos dizem que os clubes de futebol não têm dono. Não concordo com tal afirmação.

Os clubes têm dono, sim. São eles os seus associados e os seus torcedores, cujo tamanho, interesse e capacidade de consumo definem o montante das receitas, em patrocínios, contratos de transmissão, rendas de bilheteria, venda de produtos licenciados etc., essenciais para sua existência e realização das suas atividades. Portanto, os grandes clubes de futebol têm alguns milhões de donos.

No caso do meu clube, o São Paulo FC, eu, associado e torcedor, sou um desses milhões de proprietários.

Ao longo das últimas décadas, tive a felicidade de presenciar a construção de uma imagem de credibilidade e excelência na gestão do meu Clube, fruto do trabalho de dirigentes que se destacavam pela discrição, fidalguia e competência, tendo essa fórmula sido coroada com inúmeros títulos de expressão nacional e internacional e reconhecimento de excelência, inclusive pelos rivais.

Com preocupação, vejo a imagem do São Paulo se depreciar rápida e significativamente nos últimos tempos.

O Presidente Carlos Miguel Aidar assumiu a gestão do Clube em abril de 2014, cercado de grande e positiva expectativa. Afinal, tratava-se de um Presidente que fizera ótima gestão à frente do São Paulo na década de 80, além de ter conseguido sucesso em sua profissão, como advogado, chegando inclusive à Presidência da OAB/SP.

Porém, em pouco tempo tudo mudou e mudou para muito pior. Instalou-se dentro do São Paulo um cenário jamais visto, um clima beligerante, temerário e inexplicável. O Sr. Aidar fez um ato inadmissível, partiu publicamente para o ataque e destruição do seu antecessor e principal apoiador em sua eleição; partiu do princípio que é preciso destruir a imagem do Presidente anterior para poder mandar com tranquilidade. Isto é uma sórdida técnica usada inclusive nos meios empresariais e que, normalmente, traz resultados desastrosos. Na minha vida como presidente e gestor, já vi esse filme em preto e branco e em cores e posso garantir que é horrível.

Nesse clima interno de intranquilidade, o Sr. Aidar, depois de confrontado a respeito, assumiu ter celebrado contrato de intermediação com sua namorada, pelo qual receberia 20% dos negócios que ela trouxesse ao clube. Por falta de mais conhecimentos, não vou entrar no mérito dessa questão, mas o Presidente de um clube como o São Paulo tem que assumir regras de compliance e administrar de acordo com as melhores práticas de governança corporativa.

No São Paulo, existem muitas questões a serem tratadas de acordo como eu enxergo o futebol moderno. Eventual separação do clube social do clube de futebol, novo modelo de gestão para ambos, integração do centro de treinamento de Cotia com o centro de treinamento dos profissionais, modernização ou não do estádio do Morumbi, entre tantas outras coisas. O Sr. Aidar fala nesses temas, porém, é preciso que eles sejam tratados abertamente com o Conselho Consultivo, Conselho Deliberativo e dado conhecimento a todos os associados e torcedores. Um presidente e um bom gestor precisa agir democraticamente e ouvir a todos.

E agora, o pior. Apesar deste clima de confronto e de instabilidade na direção do clube, no futebol as coisas ainda caminham bem. Fomos vice-campeões brasileiros em 2014 e temos pela frente boas perspectivas para disputar o campeonato paulista, a libertadores e o campeonato brasileiro. O clima é de tranquilidade. Porém, o Sr. Aidar, com o seu hábito de fazer cobranças públicas ao invés de resolver os problemas internamente, parte, agora, contra Muricy Ramalho, treinador consagrado com inúmeros serviços prestados ao São Paulo. Agindo assim, o Sr. Aidar desestabiliza o ambiente do futebol profissional, carro chefe da Instituição, no qual paz e tranquilidade para trabalhar são elementos fundamentais. Quem conhece gestão de pessoas sabe que cobranças públicas são contraproducentes. O gestor deve ter acesso irrestrito aos seus comandados e, em privado, apontar as metas que pretende atingir e exigir os resultados esperados.

Assim, por ser um dos milhões de donos do São Paulo, tenho o direito legítimo de me preocupar com os graves danos causados ao ativo mais importante do MEU Clube, sua imagem, sua marca, sua História de credibilidade.

Tenho uma vida longa e bem conhecida por todos, sou um seguidor da lei e da ordem, não apoio golpes ou tramas ilícitas. Por esses motivos, peço ao Sr. Aidar que reflita: o Senhor não está à altura de presidir o São Paulo. Modifique completamente a sua gestão ou tome a decisão correta.