Transparência e participação podem mudar o jogo
Abilio Diniz
Nunca participei da administração do São Paulo nem de nenhum outro clube de futebol. No ano passado, em virtude das graves dificuldades do clube, procurei, por meio dos Conselhos Deliberativo e Consultivo, ajudar a superar aquele momento crítico. Tivemos sucesso em mudar a presidência e a diretoria do SPFC. Mas, na minha opinião, o principal não foi atingido, que era colocar o São Paulo num caminho que o tornasse referência nacional e talvez mundial em gestão esportiva.
Na minha atuação junto aos Conselhos, tenho pregado mais transparência e participação desses órgãos na gestão do SPFC. Na minha visão, os sócios e os torcedores do São Paulo são seus verdadeiros donos, representados pelos conselheiros do clube, e as principais decisões devem ser tomadas por esses representantes, com clareza e transparência, para que todos saibam o que se passa e participem.
No sentido de colaborar com o SPFC, estou arcando com os custos de duas das mais importantes consultorias do mundo, a PricewaterhouseCoopers (PwC) e a McKinsey. Elas estão fazendo um trabalho de auditoria e consultoria na parte financeira e no futebol, elaborando sugestões visando a modernidade e a busca de mais eficiência. As consultorias estão avançando nas auditorias que revelarão a verdadeira situação do clube, mas elas não conseguem informação nem espaço para trabalhar no futebol. Parece não haver interesse dos atuais dirigentes na abertura para coisas novas e na transparência.
Depois de tantas derrotas, dentro e fora do campo, o futebol brasileiro está passando por um momento importante que pode redefinir seus rumos.
Uma investigação internacional está finalmente prendendo e apertando o cerco contra dirigentes do futebol brasileiro e internacional, que por décadas exploraram o esporte para benefício próprio. A nova legislação do futebol brasileiro obriga os clubes a serem mais responsáveis e transparentes na administração. Já na parte da receita dos clubes, uma nova disputa pelos direitos de transmissão dos campeonatos envolve enorme quantidade de dinheiro e obriga os clubes a fazerem planejamento de mais longo prazo.
Nesse contexto de renovação e purificação do futebol, e com toda a minha experiência de gestor, entendo que decisões importantes como a dos direitos de transmissão devam ser tomadas não apenas por uma pessoa ou um pequeno grupo de pessoas, mas pelo colegiado representativo dos verdadeiros donos do clube, seu Conselho Deliberativo, até porque o que for decidido agora valerá para depois do mandato dos atuais dirigentes são-paulinos.
Os donos do SPFC têm que participar através do Conselho para que haja legitimidade nas decisões da diretoria. Transparência e participação são o nome do jogo.
Considero importante a participação do Conselho mesmo nas contratações e vendas de jogadores, normalmente tão polêmicas. Marcelo Pupo Barboza, presidente do Conselho Deliberativo, está procurando fazer o que pode, nomeando comitês. O problema é que esse trabalho é feito a posteriori, tendo efeitos mais de autópsia do que de prevenção.
Sei que muitos conselheiros defendem que o SPFC deva ser administrado pela paixão e pelo coração. Respeito e concordo. Só que essa força emotiva tem que ser colocada em benefício do São Paulo como um todo, e não administrada apenas por um pequeno grupo no poder.