O exemplo e a consagração de Tite
Abilio Diniz
Terminei de assistir à Copa de 2014 frustrado e profundamente irritado. Como apaixonado por futebol e estudioso desse esporte, fiquei muito triste. Menos com o 7×1, que considero um acidente, e mais com toda a performance da seleção no torneio.
Não gosto de ficar apontando culpados, mas foi deprimente ouvir Parreira e Felipão dizerem que tinham feito tudo certo e que repetiriam tudo de novo se tivessem a oportunidade.
Já disse aqui que o Brasil continua produzindo craques, mas nos faltam técnicos competentes e atualizados. Por isso fiquei surpreso com a escolha de Dunga para dirigir a recuperação da seleção pouco depois do fracasso de 2014 e do insucesso dele próprio em 2010.
Se fosse eu o encarregado da escolha, Dunga seria a minha segunda opção. Sempre admirei sua coragem com aquele esquema tático ousado com volantes ágeis que tanto defendiam como chegavam ao ataque. Tivemos grandes resultados com essa forma de jogar, mas caímos no mundial de 2010.
Em outubro do ano passado, tive a oportunidade de conhecer pessoalmente aquele que teria sido minha primeira opção para renovar a seleção brasileira.
Convidei Tite para um almoço e um debate comigo e mais algumas pessoas que trabalham comigo em esporte. Ficamos todos muito felizes com a conversa, e cresceu ainda mais a nossa admiração por este técnico competente que não para de estudar e tentar evoluir.
O resultado está aparecendo. O desempenho do Corinthians neste ano, após o retorno de Tite, está sendo admirável. E quem ganha não é apenas o Tite e o Corinthians, mas todo o futebol brasileiro.
Neste final de semana, ele recebeu um grande reconhecimento da mídia. Uma entrevista na “Folha de São Paulo” e uma matéria na revista “Veja” colocaram Tite realmente num patamar acima dos profissionais brasileiros.
Seu exemplo ajuda a formar a onda que levará os nossos técnicos a entenderem que precisam se reciclar. Eu diria até que é mais do que uma reciclagem. É se abrir para a coisa mais importante da vida: ter humildade para procurar aprender sempre, reconhecer que nunca se sabe tudo e que aprender significa crescer.
Tenho falado isso seguidamente para o Muricy e o Milton Cruz no São Paulo e felizmente tenho sentido nos dois uma grande disposição para evoluir.
Estou cansado da história dos medíocres que dizem que técnico não ganha jogo. Não é verdade. E uma coisa é certa: se não ganha, pelo menos perde, como aconteceu conosco em 2014.
Espero que Dunga tenha sucesso na seleção e que Tite siga sua trajetória vitoriosa. O êxito dos dois valorizará muito a importância tática no nosso futebol, como acontece na Europa. Assim teremos muito aumentadas as nossas chances na Copa de 2018.