Hora de agir no São Paulo
Abilio Diniz
Fiquei feliz ao ver o presidente Carlos Miguel Aidar anunciar na sexta-feira um plano para promover a profissionalização e a transparência na gestão do São Paulo. Todo o trabalho feito por mim e muitos outros no Conselho Consultivo e no Conselho Deliberativo teve efeito.
Somos a favor de todo movimento efetivo em direção à profissionalização. Por isso, apoiamos a declaração de intenções feita na sexta-feira. Ela segue a linha do que defendemos para o São Paulo sair dessa crise aguda e voltar a ser exemplo no futebol brasileiro.
Mas a profissionalização vem sendo prometida desde o ano passado. Chegou a hora de as coisas acontecerem.
Não é possível uma organização como o SPFC, com receitas da ordem de R$ 220 milhões por ano e uma dívida explosiva que pode inviabilizar seu futuro, ser gerida de forma não profissional como é hoje.
Aliás, o fato de se anunciar uma dívida diferente da que consta no balanço revela o tamanho do perigo. Aidar prometeu chamar uma das quatro grandes empresas de auditoria atuantes no Brasil para examinar a situação do clube. Isso é fundamental e precisa ser feito com rapidez.
Qualquer uma dessas empresas consegue em poucos dias de trabalho determinar a situação da dívida e o fluxo de caixa até o fim do ano. Sem isso, o voo será cego e perigoso.
Pelas informações disponíveis, o São Paulo só conseguirá honrar seus compromissos se seguir pedalando sua dívida, antecipando receitas e obtendo recursos extraordinários com a venda de jogadores ou grandes bilheterias. E se isso não acontecer? Não dá para gerir o SPFC contando com a sorte e empurrando os problemas para frente. É preciso planejamento e execução.
O Organograma apresentado mostra o Conselho Deliberativo como instância máxima, o que é um avanço. O Conselho representa os verdadeiros donos do São Paulo, e sua responsabilidade neste momento é fundamental.
Uma auditoria bem-feita deve esclarecer uma série de dúvidas que não foram respondidas, entre as quais:
1 – Como a dívida do SPFC, antes estimada em R$ 270 milhões, caiu para R$ 137 milhões?
2 – Por que alguns vice-presidentes, muitas vezes sem experiência na área que comandam, manterão o poder e ficarão acima dos profissionais que serão contratados para tocar departamentos fundamentais como marketing e finanças?
3 – Como o São Paulo vai aumentar receitas, diminuir despesas e resolver os problemas do déficit mensal e do endividamento?
A previsão para este ano é de prejuízo perto de R$ 100 milhões, segundo o Instituto Áquila. Sem respostas objetivas, sem transparência e sem profissionais capacitados nas suas áreas será impossível levantar os recursos para colocar o Tricolor nos trilhos e na liderança do futebol.
Apesar de declarações na direção certa, está tudo ainda muito confuso. Apoiaremos o que a atual diretoria fizer pelo bem do São Paulo e continuaremos pressionando pelas mudanças urgentes, oferecendo nossa experiência.
Já se falou muito sobre a crise são-paulina. Não há mais tempo a perder. É preciso começar a fazer.
Eu e todos os são-paulinos estaremos de olho, marcando juntos, para que o nosso São Paulo seja gerido pelos profissionais que a crise exige, dentro das melhores práticas.
Só assim voltaremos a ser um clube pioneiro e exemplar, que dá muitas alegrias a seus torcedores e associados.