Contribuindo com o São Paulo
Abilio Diniz
Não participo diretamente da gestão do São Paulo, mas, como membro do Conselho Consultivo, tenho tentado ajudar o clube a encontrar caminhos para sair de uma de nossas piores crises.
Nesta semana, a convite do presidente Carlos Miguel Aidar e do presidente do Conselho Deliberativo, Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, expus aos conselheiros minha visão sobre gestão em momentos como esse.
Quando uma empresa enfrenta uma crise, seus donos têm que assumir a responsabilidade pelas decisões estratégicas. Nas grandes corporações, os donos estão representados no Conselho de Administração. O São Paulo está em crise. Quem são os donos? Os donos são os associados e os torcedores que formam a nação são-paulina. Quem representa os donos? Os membros do Conselho Deliberativo do clube para quem falei.
Por isso, minha intenção na conversa foi alertar o Conselho para essa responsabilidade, que nos clubes de futebol às vezes é pouco clara.
Como já escrevi neste blog, este é o momento de união de todas as forças políticas do São Paulo em torno de um projeto de governança e gestão profissional capaz de superar as dificuldades, inclusive as urgentes, de caráter financeiro.
O presidente Aidar e o novo CEO do clube, Alex Bourgeois, já estavam conversando há muito tempo sobre a possibilidade de criar um fundo de investimento que teria como ativo os contratos dos jogadores. Pode ser uma boa solução para o curto prazo _se bem implementada.
O que disse ontem aos conselheiros? Que, na minha experiência, esse fundo só vai funcionar se tiver regras muito claras, transparência e gestão profissional e remunere satisfatoriamente os investidores.
O fundo precisa ser capaz de atrair investidores do mercado e não são-paulinos apaixonados. Paixão e investimento geralmente não combinam. Se o fundo não atrair recursos de não-são-paulinos, é sinal de que pode não ser um bom investimento, e aí ele não vai cumprir seus objetivos.
Esta é uma solução emergencial para resolver o problema de caixa do clube. A solução de médio e longo prazo passa por gestão profissional, grande redução de despesas e tirar do Centro de Treinamento de Cotia tudo aquilo que esse imenso patrimônio pode oferecer.
Defendo isso com convicção pela experiência que tive com o Audax. Aquela era uma ação de caráter mais social do que esportivo. Mesmo assim, com pouquíssimos recursos, conseguimos muita coisa com os garotos que lá passaram, formando não só alguns craques valiosos, como o Paulinho, como também homens de bem e brasileiros exemplares.
O São Paulo não precisa de caridade de seus torcedores, precisa de uma gestão transparente e profissional de seus grandes ativos.
Não é dar o peixe, mas ensinar a pescar.
Foi essa minha mensagem aos conselheiros do Morumbi. A reação deles me deixou entusiasmado.